As casas de uma cidade romana

Uma pesquisa arqueológica de uma antiga cidade na região central da Itália revelou características urbanas impressionantes. A pesquisa sobre a cidade de Interamna Lirenas foi publicada pela Universidade de Cambridge neste mês de dezembro. Um levantamento geofísico sistemático produziu uma imagem surpreendentemente detalhada de todo a disposição da cidade.

As várias matérias consultadas não mencionaram a presença de uma sinagoga. A cidade teria chegado a uma população máxima de 2.000 habitantes. Talvez não tivesse sinagoga judaica por causa da população pequena. (Pense na cidade de Filipos, também sem sinagoga, At 16.11-15.) Mas Interamna Lirenas tinha um teatro coberto, raridade para o período.

A pesquisa, publicada em “McDonald Institute Monographs”, com 171 páginas, fez esta observação sobre o tamanho e a distribuição das casas:

Um dos aspectos mais marcantes da cidade é a densidade de sua ocupação. 190 das casas da cidade (84%) eram pequenas (menos de 500 m2), intercaladas com 25 casas maiores (500–1.000 m2) e apenas 5 habitações com mais de 1.000 m2.

Tal como Pompeia e Herculano, Interamna Lirenas não oferece nenhum sinal de zoneamento ou separação por nível social.

Se havia cristãos na cidade durante algum período, a diversidade de tamanho das casas teria permitido várias possibilidades para suas reuniões. As congregações optaram por se reunir nas casas no primeiro século. E quando uma casa ficava pequena, outros lares abriram suas portas.

É provável que em Corinto, por exemplo, havia reuniões em várias casas espalhadas pela cidade, pois o Senhor falou para Paulo que tinha “muita gente [para ser salva ainda] nesta cidade” At 18.10. Isso depois da conversão de toda a família de Crispo e “muitos” dos coríntios, v. 8, além de Tício Justo, pelo que se pode concluir, v. 7. Por isso, “Paulo ficou ali durante um ano e meio, ensinando-lhes a palavra de Deus” v. 11. Paulo proíbe que suas mulheres falem “nas congregações” 1Co 14.34. Havia vários mestres e profetas em Corinto, os quais podiam indicar bom número de convertidos.

O evangelho chegou também até a cidade de Cencreia, Rm 16.1, que distava uns 10 quilômetros de Corinto. O capítulo 16 de Romanos menciona vários irmãos de Corinto (ver especialmente vv. 21-23), além das “congregações de Cristo” de lá que enviavam saudações aos romanos, Rm 16.16. Há menção de alguns da casa de Cloe, Crispo, Gaio e os da casa de Estéfanas em 1Co 1. Tudo isso indica a existência de várias congregações nos lares em Corinto.

Convém lembrar também de Áquila e Priscila, como fabricantes de tendas, provavelmente não tiveram uma das maiores casas, mas sempre de dedicavam à obra de Deus e recebiam no seu lar uma congregação, At 18.1-4; 1Co 16.19; Rm 16.3.

Interamna Lirenas nunca chegou a ser uma cidade grande, mas como Corinto, proporcionava possibilidades, pela distribuição de tamanho das casas, para as reuniões dos discípulos. No primeiro século, cidades grandes e pequenas receberam o evangelho e muita gente se converteu à verdade.

O evangelho penetrou todas as camadas da sociedade. Em Corinto, por exemplo, Erasto era tesoureiro, ou “administrador”, da cidade, Rm 16.23. Para oferecer a toda a igreja hospitalidade, Gaio é tido como homem de bens. Como chefe da sinagoga, Crispo provavelmente desfrutava de boa posição social, At 18.8. Entre os convertidos em Corinto, “poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento” 1Co 1.26, mas havia alguns, número suficiente para grupos maiores.

Os primeiros cristãos, de todos os níveis, colocaram suas vidas à disposição do Senhor Jesus. Usaram o que tinham, inclusive suas casas, para a obra de Deus. As pesquisas em Interamna Lirenas nos lembram que os cristãos faziam parte de uma sociedade diversa, com casas de tamanhos variados, que facilitava o crescimento da Palavra ─ diversidade semelhante que se manifesta hoje em dia no Brasil.

Portanto, nossa situação também é perfeita para o evangelho, se buscamos em primeiro lugar o Reino de Deus, como fizeram os primeiros cristãos.