Meu voto

Nota: O seguinte texto foi resgatado de uma revista de construção joseense, publicado em 2004. O editor tinha me convidado a fazer parte da primeira edição do periódico.

Eu gosto de eleições. As praças são arrumadas, as ruas pavimentadas, mesmo as expectativas elevadas, para alguns. E a propaganda política não me importuna, pois não assisto televisão (perda de tempo!).

Brinquei com um amigo que, assim, todo ano deve ter eleição. Talvez mais melhorias seriam feitas.

Gostamos das coisas arrumadas e bem organizadas. Mesmo a pessoa mais bagunceira tem seu sistema de achar as coisas. Minha mesa fica empilhada de papéis e livros, mas tenho uma noção de onde encontrar aquele recibo ou aquela conta ─ Já sei! ─ Está dentro da parte de baixo do Montão nº 57.

E ai daquele que, com pretexto de limpar, mexe nas minhas pilhas!

Queremos não somente uma mesa, uma obra ou uma empresa arrumada, mas a vida também, para viver em paz com nossa família, nosso vizinhos, nossos colegas de trabalho. Nem sempre é tão fácil como administrar uma pilha de papeis ou materiais de construção, mas, verdade seja dita, sabemos que é mais importante arrumar a vida do que aquilo que vai para o lixo amanhã.

Esses relacionamentos refletem diretamente o estado de ser do próprio coração ─ se sou honesto comigo mesmo, se dou valor as coisas que realmente importam (e dinheiro não é uma delas!), se busco desenvolver as qualidades morais que sobrevivem às flores de azaleias já murchas e a explosão de cor dos ipês-amarelos.

Tais sinais da primavera, por mais bonitos que sejam, cedem ao verde do verão e este, por sua vez, à sequidão e ao frio do inverno. A vida também caminha para o fim. E ficarei apenas com a possibilidade do que pude construir no coração.

As filosofias e os pensamentos humanos variam entre si, mudam com o vento e refletem as preocupações dos seus tempos. Para edificar uma vida interior sólida e duradoura, preciso de alicerces e pilares firmes. Espirituais, Divinos. Pois só esses aguentarão o vai e vem das marés que solapam as bordas e o centro do ser humano.

Como escreveu um músico inspirado: “Se não for o Senhor o construtor da casa, / seria inútil trabalhar a construção. / Se não é o Senhor que vigia a cidade, / será inútil a sentinela montar guarda”.

A casa da minha vida merece o melhor construtor. Ele se dispõe a começar a qualquer momento; só falta convidá-lo.

Eleições fazem parte do processo democrático. Esperamos que ganhem candidatos honestos e compromissados com nosso bem-estar.

Mas meu melhor voto é o de eleger o Construtor que sabe edificar uma vida que nunca vai se perder na bagunça e nem murchar com as flores da primavera.

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One Comment

Comment 2024-01-12

20 anos depois, o texto segue atual .

Excelência não envelhece.

Obrigada, Randal